Um grupo de aproximadamente 20 pessoas, entre policiais do Corpo de Bombeiros, funcionários do Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae), Defesa Civil, brigadistas da Universidade de São Paulo (USP) e empresas particulares de São Carlos trabalharam até a noite desta segunda-feira, 20, para conter o fogo em um depósito de pneus utilizado pela Prefeitura de São Carlos, o mesmo local em que o advogado Flávio Lazarotto (PSOL) denunciou ao Ministério Público por uso indiscriminado no descarte de pneu. O Primeira Página expôs o fato na edição de 11 de maio.
O barracão está localizado na rua João Bregagnolo, no Parque Delta, a poucos quarteirões da rodovia Washington Luís. Segundo o Corpo de
Bombeiros, o incêndio começou por volta das 8h, o que foi confirmado pelo aposentado Wilson Lopes, que mora em frente ao depósito. “Eram 8h05 e já tinha muita fumaça. Estava insuportável”, relatou.
De acordo com o tenente Rangel Moreira Gregório, do Corpo de Bombeiros, é difícil apontar as causas do incêndio nesse momento. “A Polícia Científica vai elaborar o laudo e só depois disso podemos determinar o que aconteceu no depósito”, explicou.
O prefeito Paulo Altomani foi vistoriar o trabalho de contenção das chamas. Ele não descarta a possibilidade de incêndio criminoso.
“Pegamos o local [barracão] desse jeito. Acreditamos que o incêndio foi criminoso porque existiam três focos de chamas. A intenção da administração é destinar os pneus que, por obrigação da lei a Prefeitura tem que recolhê-los, para uma unidade de produção de energia da CPFL”, disse Altomani.
O secretário de Desenvolvimento, Ciência e Tecnologia, José Galizia
Tundisi, confirmou o desejo do prefeito Altomani, em trazer uma unidade da CPFL que, por meio da queima de pneus, consiga gerar energia. “Antes disso, estávamos destinando os pneus para a reciclagem e reaproveitamento em uma empresa de Sorocaba. Na sexta-feira, retiramos uma carreta e hoje, quando chegou um segundo veículo para remoção dos pneus, o fogo consumia o barracão”, explicou.
O diretor da Defesa Civil de São Carlos, Pedro Caballero, comentou que 15 veículos de brigada de incêndio foram usados para conter as chamas.
Ele estima que mais de 200 mil litros de água foram usados no barracão. “Para pegar fogo, o pneu precisa de muita caloria para a combustão. Não podemos descartar a possibilidade de incêndio criminoso”, endossou.
PERIGOSO – A reportagem ouviu alguns moradores da rua João Breganollo, que denunciaram alguns problemas. O aposentado Wilson Lopes disse que no local existem muitos ratos. “É uma sujeira só. A gente não vence matar ratos”, explicou.
Isabel da Silva explicou que o mato toma conta das imediações do barracão. Matar rato já virou rotina para ela e para os vizinhos. “Além disso, tem os noias [viciados em drogas] que ficam no barracão usando droga. Aqui não tem segurança”, acrescenta.
Franciele Maceno tem medo de passar pela rua para levar as crianças à escola por conta da presença de estranhos, geralmente viciados em droga, no barracão. “O barracão é sujo e ninguém toma providência. A rua tem pouca iluminação à noite e até durante o dia dá o medo de sair”, afirma.
A PREFEITURA – Por meio de nota, a Prefeitura de São Carlos reafirma que não é a proprietária do barracão. O local foi alugado pela
Coordenadoria de Meio Ambiente para usar o local para a reciclagem.
“Apesar do prejuízo do proprietário, o barracão vai ser reformado pelo dono da área e a Prefeitura vai instalar um programa de coleta seletiva no bairro”, confirmou Tundisi.
De acordo com a Prefeitura, os donos do barracão, a família Suquisaqui, se prontificou em fazer alterações no prédio para atender o que foi estabelecido pela Cetesb. A Prefeitura reitera, pelo documento, que há indícios de incêndio criminoso.
Advogado pediu providências sobre barracão
No dia 11 de maio, o Primeira Página havia publicado, com exclusividade, que o Ministério Público havia acatado denúncia do advogado Flávio Lazzarotto (PSOL), que apontava más condições de preservação do galpão utilizado pela Prefeitura de São Carlos para o armazenamento de pneus usados e que devem ser encaminhados para reciclagem.
Segundo o advogado, O galpão usado não possui paredes laterais e a maioria das telhas que cobrem o espaço estão quebradas. Quando chove, a água se acumula dentro dos pneus. Além disso, muitos deles estão jogados fora da área coberta e até mesmo dentro do córrego que passa ao lado. “O local não é totalmente cercado, permitindo assim a entrada de pessoas estranhas que jogam outros resíduos sólidos e utilizam o espaço para outras condutas impróprias”, afirmou o advogado. “O município gasta com propaganda de combate a dengue e mutirões para eliminar possíveis criadouros em residências, enquanto a própria Prefeitura não dá o exemplo mantendo o local como esse descuidado”, observou, à época, Lazarotto.
Segundo o secretário de Desenvolvimento, Ciência e Tecnologia, José Galizia Tundisi, independente da ação do Ministério Público, “a Prefeitura estava tomando todas as providências para regularizar o espaço, que será destinado à coleta seletiva”.
O proprietário do galpão, Wilton Suquisaqui, explica que o prejuízo com o incêndio foi de R$ 300 mil. “Estávamos nos preparando para regularizar o barracão junto à Cetesb e vamos reformá-lo para atender as condições estabelecidas”, informou.